
David Bowie tem razões para sorrir após ter produzido enormes sucessos de artistas de renome conhecidos como os Mott The Hopple (em All The Young Dudes) e Lou Reed (em Transformer) e de ter a imprensa ao seu lado pela primeira vez graças ao incontestável álbum que é considerado um dos grandes clássicos da era Glam Rock, o Ziggy Stardust. Mesmo antes de Ziggy Stardust David Bowie já haveria criado grandes clássicos como o folklórico Space Oddity, o muito hard rock em The Man Who Sold The World e o variado acústico de Hunky Dory. David Bowie criara a sua própria personagem fortemente influenciada por Iggy Pop e Mark Bolan mas ao mesmo tempo com um estilo único, com trajes futuristas, cabelo em forma avermelhado de cenoura e muita excentricidade, desse mesmo visual levara-o a identificar-se como superstar. Aladdin Sane é todo composto liricamente e musicalmente por David Bowie a acrescentar ainda uma cover dos Rolling Stones (Let’s Spend The Night Together). A banda acompanhada é Mike Garson no piano (abandonado por Rick Wakeman) que cria climas extraordinários, Mick Ronson na guitarra (grande guitarrista), Trevor Bolden no baixo, Woody Woodmansey na bateria e como gospel vai Linda Lewis, os irmãos MacCormack e Juanita Franklin. Fortemente influenciado pelo livro "Vile Bodies" de Evelyn Waugh, onde visões de Armageddon, a eliminação da diferença entre os sexos, como também a conquista da vida sobre a morte e sobre o conceito que conhecemos como tempo. Todas as coisas resultam desse mesmo disco, mas não indo à conceptualidade. O álbum abre com o muito rock stoniano WATCH THAT MAN, de clima Exile On Main Street, mas o que torna ainda comparativo é pela backing vocals e sopros ai adicionados, realçando uma fórmula empolgante. A próxima faixa é uma obra prima. O título da canção, Aladdin Sane é na verdade um arranjo discreto de "A lad insane", um rapaz insano. Ao lado do nome, existe três datas em parênteses, 1913 - 1938 - 197?. Os primeiros dois anos têm em comum de serem anos de vésperas do inicio da Primeira e Segunda Guerra Mundial, respectivamente. É apenas natural supor que a terceira lacuna, especula sem determinar a véspera da Terceira Guerra Mundial, ou seja, um mistério já resolvido visto que já ultrapassámos esse tempo. Liricamente representa algo abominável, o povo inglês que vivia cheio de prazeres e depois vem o inevitável, a Grande Guerra, em que as pessoas iriam à tona sendo lançado a um holocausto sem fim, é uma metamorfose do que a América está a ser. Drive In Saturday parte do pressuposto, que o povo depois do holocausto, agredido pela radiação que ataca os órgãos sexuais e atrofiam os instintos, acaba por esquecer como amar com relações sexuais. Sobra como opção de tentar reaprender assistindo a filmes nos drive-ins. Outra faixa, Panic In Detroit nasceu de uma conversa entre Iggy Pop em que sonhava sobre a pura anarquia e rebelião contra o sistema com os seus amigos da escola, entrincheirados de metralhadoras e uma boina na cabeça. Depois de Iggy ter ido embora David imaginou-o como um Che Guevara membro da Gangue Nacional do Povo, é uma canção algo pesado à la Bo Diddley com ritmos de Mick Rosnson. Cracked Actor apresenta-nos como personagem, um actor envelhecido e decadente, mal intencionado e mercenário. Time abre o segundo lado trazendo de volta Mike Garson com seu piano que nos remete directo para o teatro. Bowie interpreta e questiona no melhor estilo Brecht - Weill, a máxima de Shakespere, ao reflectir que o mundo não é um palco mas sim um camarim. E ao pisar no palco, o tempo pára. A frase (...) demanding Billy Dolls (...), é uma referência a Billy Murcia, baterista do New York Dolls que acabara de morrer em Londres no Verão. Sem duvida uma balada excepcional com gospel no seu melhor estilo, inovador. A coverizada Let’s Spend The Night Togheter, um rock duro, rugoso e simples fala da heterossexual da década de sessenta Bowie parece tentar alterá-la implicando a ideia de que fora composta falando sobre a homossexualidade. Jean Genie de grandes riffs mostrando um Mick Ronson puro com a sua Gibson, uma canção hard rock que se tornou num dos grandes singles do século XX e da década de setenta. Finalmente fechando, Lady Grinning Soul uma das interpretações mais bonitas de David Bowie em toda sua carreira. Essa balada é lindamente arranjada com violões de seis e doze cordas, além de um piano riquíssimo, novamente nas mãos de Garson. Não é um álbum conceptual, muito pelo contrário, é simplesmente uma selecção de grandes faixas resumidas a serem ouvidas e sancionadas pela curiosidade, vale a pena ouvir e “reouvir” uma grande colecção de sublimes baladas e rock speedado, um álbum verdadeiramente glam rock. Conta com a produção de David Bowie e Ken Scott. Embora que o álbum que mais oiço e goste seja o conceitual Ziggy Stardust o Aladdin Sane está entre os melhores deste grande mestre.
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